Meu Anjo Carlos André!

Meu nome é Naira, tenho 35 anos. No dia 06\02\2012 nasceu Carlos André. Um bebê lindo e perfeito. Muito tranquilo quase nem chorava. Na maternidade estranhei pois todos os bebês eram chorões e davam baile nas mamães, o meu bebê ao contrário dormia tranquilamente, dava umas remungadas às vezes mas eu o pegava em meu colo e logo adormecia. Os bebês logo que nascem gostam e precisam ficar pertinho da mãe, pois sentem-se mais seguros e protegidos. Eu, meu marido André e minha filha Thaís de 16 anos, estávamos muito felizes. Agora estava completa nossa família! Quanta alegria quase nem cabia em nosso peito tanto amor por aquele ser tão especial. Não nos cansávamos de olhá-lo e só queríamos ficar ao seu lado. Estava tudo perfeito! Agradecia à Deus todos os dias por tamanha alegria, sentia que nada poderia mudar isso. 

Carlos André passou 18 dias maravilhosos conosco. Era um bebê iluminado, todos que chegavam perto dele ficavam felizes e maravilhados com sua beleza e encanto. Se admiravam pois estava sempre tranquilo, mesmo quando estava acordado. Não chorava nem mesmo quando estava com fome, ele virava o rostinho para o lado procurando seu mamazinho e dava uns gemidinhos. Até hoje ainda o escuto. 

Carlinhos começou a ficar ofegante, tinha cólicas (era o que pensavamos) ficava um pouco roxo, daí soltava gases e fazia cocozinho na fralda e passava, voltava ao normal. Levei na pediatra, ela suspeitou de sopro, o que é muito normal para os RN. Marcamos então uma ecocardio para o dia 01\03, mas ele nunca fez o exame pois partiu antes.

No dia 23\02 meu marido iria entrar mais tarde no trabalho, então pedi que ele cuidasse por alguns instantes do nosso filho, ele estava maravilhado seu primeiro filho, os dois passaram então seus últimos momentos juntos. Mais tarde fui para o pátio e levei ele no carrinho,  estava muito tranquilo e parecia bem feliz! Meu pai brincou um bom tempo com ele enquanto eu fazia o almoço. Foi uma manhã maravilhosa e com muita harmonia.

Mais tarde fui para o meu quarto e Carlinhos começou a procurar seu mamazinho, era tão lindo ele virando o rostinho, parecia que iria ter mama em qualquer lugar. Um dia coloquei ele no meio das minhas pernas e ele começo à sugar minha panturrilha. Amamentei meu filho e coloquei ele em pé de encontro ao meu peito, ele começou à chorar, coloquei então ele de bruços em seu travesseiro no meu colo. O Carlinhos ficou roxo, corri para a cozinha para pegar uma bolsa de água quente, achando que era mais uma de suas cólicas. Notei então que ele estava com mais dificuldade para respirar e de repente ele deu um gemido estranho e  um suspiro profundo. Parou de respirar, saí correndo gritando pela minha mãe, ligamos para a pediatra e ela foi nos dizendo o que fazer enquanto o levávamos para o hospital. Foi horrível, fui sugando o nariz e a boca do meu bebê até lá. Parecia que ele não queria partir,  deu alguns gemidos e suspiros. Quando chegamos ao hospital meu bebê já estava morto, mesmo assim a equipe médica tentou reanimá-lo por 40 minutos. Chamaram-me para outra sala para darem a notícia que eu já sabia, trabalho em hospital e sei que nenhum RN sobrevive tanto tempo sem oxigênio no cérebro, mesmo que sobrevivesse teria sequelas bem sérias.

Minha cabeça girava e meu coração não queria aceitar a perda. Pensava no que iria dizer para meu marido e minha filha. Minha filha amada, ela estava completamente encantada com o mano que ela sempre tanto quis. Só ela queria cuidar do mano, ela chegava do estágio e ia correndo dar banho nele, não desgrudava dele nem um segundo quando estava em casa. E agora? Parecia um filme de horror, onde tudo começa  belo e se transforma em uma tragédia!

Meu marido estava à caminho do hospital e minha filha também. Quando eles chegaram desabaram em prantos. Sentia-me culpada pela morte do meu bebê, fracassada e castigada. Meu mundo havia desabado, estava desesperada. Meu marido desmaiou várias vezes no funeral. Eu já não via mais futuro, parecia que nada mais fazia sentido.

Hoje já se passou um mês, compreendo que esta foi a vontade de Deus e que tudo tem um motivo nesta vida. Agradeço por ter sido abençoada e por ter gerado alguém muito especial. O puco tempo que vivi com Carlos André, me ensinou muitas coisas, hoje me sinto diferente, já não culpo ninguém, sei que o que aconteceu com meu bebê foi uma fatalidade. 

O corpo do meu bebe foi para o IML, antes do enterro, a pedido do meu marido, ele queria me provar de que eu não era a culpada pelo ocorrido. Foi detectada uma má formação congênita. Ele tinha uma hérnia no diafragma (hérnia diafragmática), como quando ele estava no útero  não usava o estômago não foi identificado, pois era algo muito minúsculo. 

Quando acontece algo que nos faz sofrer muito, temos que nos agarrar em algo e ter muita fé! Só assim para superarmos algo tão doloroso. Perder um filho é a pior dor que já senti em minha vida, nada é tão doloroso. Estamos tentando superar tudo isso, é bem difícil, quando achamos que estamos fortes a saudade aperta e desabamos em choro. Vamos ter outros filhos, mas jamais esqueceremos nosso Carlos André, ele foi algo de mais maravilhoso que nos aconteceu e nos ensinou muito. 

Gostaria que todas as mamães e papais que perderam seus filhos, compartilhem conosco. Só quem teve uma perda assim entende o sofrimento pelo qual estamos passando. Compartilhando com outras pessoas suas experiências entendemos os porquês. Temos que nos fortalecer pois um dia enconteremos nossos anjinhos no céu, eles querem nos ver bem, quer que sejamos felizes!